Calos curados

 

 

Para meus novos priminhos

 

Vocês ainda não sabem, mas toda geração da Tranqueira tem seus personagens e, por conseguinte, suas histórias lendárias. Lembrei-me dia desses do livro de tia Elci – que está em fase de edição – sobre as inesquecíveis peripécias infantis da família Martins.Uma obra simples, mas de um valor sentimental incalculável. Com certeza, é impossível lembrar-se das últimas edições da Tranqueira sem as pérolas da new generation, cada um com suas peculiaridades.

Mas, falando em memórias, uma em especial me chamou a atenção e, por vezes, me visita a mente. Era na casa de vovó Adelaide. Um grupo de tranqueirenses conversava animadamente. De repente, um tombo aconteceu. Laura, então com três anos, começou a chorar desconsolada. Um calo visível e vermelho apareceu bem no meio de sua testa. Vovó ficou preocupada: “Laura, ainda está chorando?”.

Chorou, chorou, até que parou. De repente, como num passe de mágica, passou a mão sobre o calo e soltou: “Já sarou!”. Este gesto singelo de vitória e alegria pelo calo já ter passado me fez refletir sobre os calos de nossa vida. Calos que ora nos ensinam ora nos desafiam. Calos que insistem em não sumir da memória. Calos que deixam marcas para o resto da vida, outros que a gente acha que não aguenta. Hoje, quando sofro algo e passa rápido, lembro-me da pequena Laura e do seu “Já sarou!”.

Lembro-me que, por volta dos oito anos, me sentia um pouco deslocada nas reuniões familiares, porque as primas eram mais velhas ou mais novas, de modo que era difícil acompanhar o ritmo delas e suas conversas. Da minha idade, só tinha Daniel – o eterno “Leleco” – e João Ricardo. Eu comparava “Daniel Leleco” com o primo Vasco, do romance “Clarissa”, de Érico Veríssimo.

Olho para esta geração de até 10 anos, o baby boom dos Martins, os laços novos que vão se formando. Os admiro por sua sagacidade, inteligência, doçura, mas também com uma pontinha de vontade de voltar no tempo, ser criança e poder brincar mais. Pena que o tempo desta mulher pré-balzaquiana não permite muito. Hoje, além da tecnologia que os une, essas crianças têm algo de valor inestimável e que sei que é verdadeiro: suas amizades familiares. Ver Laura, Natália, Letícia e demais priminhos sempre unidos é algo memorável e digno de admiração. Tenho certeza que esse novo livro vai dar o que falar. E que vocês, em um futuro próximo, também! Aliás, já estão! Mas talvez vocês não saibam disso…

No Comments

Post A Comment