Tio Pleisan

 

Tio Pleisan tinha um nome curioso, incomum, uma alma sempre jovem.Parecia com ” pleasant” nome inglês que significa “prazeroso “.
Em 2008, poucos dias antes de nos mudarmos para o novo apartamento ele e tia Elci vieram passar alguns dias conosco.
Enquanto embrulhava os pratos no jornal ela dizia:
-A gente só faz luto se for para um lugar pior, não para um lugar melhor.
A grande sala de estar cheirava a despedida, os móveis antigos e as prateleiras de madeiras já tinham um certo cheiro de mofo.
Lembro-me dele alegremente lavando o carro de papai.Eu e tia Elci sentadas na varanda, o observávamos.Ela, sorriu dele como se fosse a primeira vez que o visse.
Tinha gestos firmes, expressivos, uma voz acolhedora.
Sempre torceu por nós.Se alegrava com nossas vitórias.Se empolgava com nossas conquistas.
É a personificação da passagem bíblica : ” o amor é paciente, o amor é bondoso.Não inveja, não se vangloria, não se orgulha”.
Na última vez que o vi disse:
-Clarissa, minha filha, você não me disse que ganhou um carro novo.
Sua voz estava sempre ” embaianada”.Carinho cantado, indo e vindo como as ondas do mar da cidade que o acolheu.Eu achava cômico o jeito que sempre detestou o carnaval de Salvador.Era fã de música clássica.Tinha um gosto musical apurado.
Lembro dele carinhosamente ajeitando os cds de papai no apartamento novo.Se maravilhou com tudo.
Foi dentista do exército.Mas era sensível demais para  esse cargo.Deveria ter sido músico, sonhador e serelepe do jeito que era.
Pela sua alegria de viver, humor, bons momentos vividos, nosso muito obrigado.
Talvez esse singelo ” obrigado” nunca seja suficiente.Foi uma despedida imperfeita, em plena pandemia, assim como é a própria vida, que viveu intensamente.
Saudades desde já.

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