Para onde vai a solidão

 

 

O espetáculo lítero-musical  “Solidão no fundo da agulha”, dirigido por Ignácio de Loyola Brandão e Rita Gullo, é inteligente, sensível, um encanto para os olhos, ouvidos e alma.A peça musical vai se debulhando nas estórias de vida e escritos da vida de Ignácio, enquanto sua filha canta nas pausas.

Desde a infância até o emocionante encontro com Sophia Loren na Itália, a peça vai se desenrolando ternamente e uma hora parece pouco para tanta vida.Em um certo momento o autor pergunta a uma tia moça-velha que era costumava bordar :

-E a solidão?

-A gente joga no fundo da agulha.-ela respondeu.

Nessa quarentena me pergunto: para onde foi a solidão?

A gente jogou no fundo do sofá, da rede, da geladeira, da cama.Jogou no fundo do medo, do choro, da angústia, do livro lido pela metade.Jogou na frente de uma esteira, de uma dieta nova, do colo redescoberto dos que amamos.Joguei no pêlo morno e doce de Tobby aquecido pelo sol das manhãs tristonhas de uma cidade silenciada pelo lockdown e pela incerteza.

Eu joguei no fundo de escritos inacabados, fotos de amigos distantes, fotos de lembranças que parecem longe demais, quando na verdade foram a apenas 6 meses.Eu joguei nas esperança de um dia voltar a ter uma simples saída, de não ter que usar mais a máscara apertando a orelha, de que todos os mortos possam ser velados dignamente.

Eu joguei no fundo dos sonhos, da sandália que fica do lado de fora para não contaminar a casa, do álcool que passo nas mãos e nos pés de Tobby.No final, joguei no esquecimento, já que pude ver que não estava tão sozinha assim.A solidão foi reconstruída e redesenhada nesse começo de década para lembrar que precisamos nos conectar de forma verdadeira, mais off-line que online, sem likes nem comentários, só muito compartilhamento de amor e igualdade.

 

 

 

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